“O Código de Defesa do Consumidor reconhece a vulnerabilidade infantil. Por isso, não podemos permitir que sejam bombardeadas por propagandas de alimentos repletos de açúcar, gorduras trans e saturada, de sódio, e de bebidas com baixo valor nutricional.” A afirmação é de Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da PROTESTE, que rebateu os argumentos de entidades como o Conar, de autorregulamentação da propaganda, que veem qualquer restrição aos anúncios de alimentos e de bebidas não saudáveis como ameaças à liberdade de expressão.
Segundo Dolci, mesmo em sociedades altamente democráticas, como a Suécia, Noruega e Holanda, por exemplo, há leis rigorosas que restringem a publicidade voltada ao público infantil. Ela lembra que proibir racismo, xenofobia e pedofilia não é atentado à liberdade de expressão, obviamente, e que ninguém discute isso. Evitar que crianças sejam estimuladas a consumir “junk food”, ou seja, alimentos que possam provocar obesidade, diabetes e taxas preocupantes de triglicerídeos (gordura no sangue ) e de colesterol ruim (lipoproteína de baixa densidade ou LDL), é simplesmente exercer o direito de proteger aqueles que ainda não tem total condição de avaliar os malefícios provocados por alguns produtos.
A PRO TESTE não tem simplesmente criticado a propaganda de alimentos nocivos à infância. Tem agido e mobilizado em prol da alimentação infantil saudável. Foi o que ocorreu em novembro do ano passado, quando PROTESTE e mais nove entidades (APM, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Sociedade de Pediatria de São Paulo, Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, Promotoria de Justiça do Consumidor de São Paulo, Associação Brasileira de Nutrologia, Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, Disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo e Núcleo Interdepartamental de Segurança Alimentar Nutricional da Unifesp) lançaram a Carta de São Paulo, para cobrar da indústria de alimentos e das autoridades ações para uma alimentação saudável desde a infância.
Agora, há uma oportunidade ímpar para virar o jogo em favor das crianças: audiência pública da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para a regulamentação da publicidade de alimentos direcionados às crianças. A PROTESTE participa do processo com entidades, empresas e organizações interessadas na Consulta Pública nº. 71, de 2006, que pretende regulamentar a comunicação mercadológica de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura saturada, gordura trans e sódio e de bebidas com baixo teor nutricional.
E propõe, às autoridades executivas e legislativas:
Maria Inês Dolci não tem dúvidas de que as propostas da PROTESTE serão consideradas radicais e provocarão reação de industriais e de publicitários. “Apesar disso, não podemos transigir com a obesidade, que já atinge mais de 15% das crianças brasileiras. Até no Bolsa Família há a preocupação com o crescimento da obesidade entre crianças que, anteriormente, se debatiam com a fome.”