Durante três meses os pesquisadores fizeram 2021 entrevistas com os consumidores que procuraram esses hospitais públicos, e registraram os acidentes de consumo que colocam em risco a saúde e a segurança da população. A pesquisa constatou que as crianças (60%) são as principais vítimas dos casos de obstrução aérea (nariz e ouvido) e se machucam com seus brinquedos (38%) ou outros itens (material escolar).
Os adultos são vítimas, principalmente, de queimaduras, conseqüência de acidentes com produtos de limpeza (álcool, cloro) e utensílios domésticos (panelas). Eles são, também, as maiores vítimas de acidentes que provocam lesões ou ferimentos, principalmente no ouvido (43%), em sua maioria, acidentes com cotonetes, quando o algodão se desprende das hastes. Devido às quedas de escadas portáteis e em piso cerâmicos os adultos também sofrem, com maior freqüência, entorses e contusões, que lesionam membros inferiores (54%).
Os resultados finais da pesquisa foram apresentados no 2º Seminário PROTESTE de Defesa do Consumidor, realizado em São Paulo, na quinta-feira, dia 11 de Março. O Projeto Acidentes de Consumo teve como objetivo mostrar a realidade nessa área em que não existe um sistema de notificação compulsória. O Código de Defesa do Cosnumidor assegura, como um dos direitos básicos, no artigo 6º, a proteção da vida, saúde e segurança do consumidor contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
O projeto piloto foi desenvolvido com o Hospital São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina; Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Hospital Universitário da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e CCI - Centro de Intoxicações da Prefeitura de São Paulo, que apoiaram o projeto .
Acidentes de Consumo na Prestação de Serviços
A maioria dos acidentes relacionados à prestação de serviços ocorre nos meios de transporte. Os serviços de transporte, juntamente com os desníveis das calçadas, são responsáveis pela maior parte dos casos de cortes, conforme constatou a pesquisa. Essas vítimas chegam aos pronto-socorros também com entorses ou contusões, que acontecem na maioria das vezes nos transportes (60%) e atingem, principalmente, os membros inferiores (68%).
Quanto à idade da vítima de acidente de consumo a variação é grande, dos 11 aos 50 anos igualmente. Os casos de indisposição estão relacionados, principalmente, a serviços prestados em bares ou restaurantes (69%) e, atingem mais os adultos entre os 21 e 40 anos (51%), causando na maioria das vezes, problemas gastrintestinais.
Quanto ao horário, foram poucos os casos de acidentes de consumo ocorridos na madrugada (3%). Os acidentes de consumo costumam acontecer mais pela manhã e à tarde. A residência (83%) é, na maioria das vezes, o local de ocorrência dos acidentes de consumo por produtos, enquanto os acidentes de serviços ocorrem, principalmente, nos meios de transporte (43%) e na rua (35%).
No caso dos acidentes por prestação de serviço, a totalidade dos entrevistados não formalizou reclamação. Nos acidentes com produtos o cenário é outro, cerca de 40% dos entrevistados afirma ter formalizado uma reclamação. Mas estas reclamações devem ser observadas com restrições, pois o entrevistado chama de reclamação o relato do caso no momento do atendimento médico.
A grande maioria (82%) dos acidentes de consumo por prestação de serviço é atendida no ambulatório. Apenas 5% dos casos necessitam de internação. Nos acidentes com produtos, os casos de internação são 1/4 dos atendimentos, e os casos de alta, cerca de 50%. Não existe variação significativa quanto ao sexo, entre as vítimas de acidentes de consumo por produtos. Porém, quando o acidente é em função da prestação de serviços, as mulheres são as vítimas mais freqüentes (55%).
A maioria das vítimas de acidentes de consumo, nesta pesquisa, independente se por produtos ou serviços, possui renda familiar entre um e três salários mínimos (74% e 66%, respectivamente), e cerca de 25% têm renda entre três e cinco salários. O percentual de entrevistados, com renda familiar superior a cinco salários mínimos, é inferior a 10%. Isto se explica pelo fato da pesquisa ter sido feita, exclusivamente, na rede pública de saúde.
Participaram do Painel sobre Acidentes de Consumo Maria Inês Dolci e Paulo Roberto Bühler, da PROTESTE, Dr. Eleuses Vieira de Paiva, presidente da Associação Médica Brasileira, Dra. Maria Tereza Gutierrez, diretora do Departamento de Pediatria, e, Cláudio Santilli, chefe do Pronto-Socorro de Ortopedia, ambos da Irmandade do Hospital Universitário da Santa Casa de Misericórdia de SP; Dr. José Roberto Ferrraro, diretor superintendente do Hospital São Paulo, e Edna Maria Miello Hernandez, do Centro de Controle de Intoxicação da Prefeitura de São Paulo.
Veja abaixo, em documentos adicionais, o relatório com os resultados da pesquisa, apresentado no 2o Seminário PROTESTE de Defesa do Consumidor.