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ALERTA: Encontramos substâncias controladas não prescritas em fórmulas para emagrecer

Fomos a 11 consultas de médicos de emagrecimento, recebemos as receitas com medicamentos que pareciam naturais, mas, ao levarmos as fórmulas manipuladas ao laboratório, vimos que escondiam substâncias perigosas.

29 maio 2017
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Qual o preço que se paga para um emagrecimento rápido? Fomos a 11 consultórios de “médicos de emagrecimento” (como esses profissionais se intitulam) no Rio de Janeiro e pagamos consultas que variaram de R$ 100 a R$ 500. Eles nos receitaram fórmulas a serem manipuladas – em sua maioria, informadas como ‘naturais’ – que iam de R$ 263 a R$ 660. Parece muito, não é mesmo? Só que, nesse caso, o preço para emagrecer é ainda mais alto: pode custar a nossa própria saúde.

Das 29 fórmulas prescritas pelos 11 médicos consultados, oito apresentavam adulterações: encontramos substâncias nas fórmulas que podem causar sérios efeitos colaterais e que não estavam prescritas nas receitas. E um dos médicos apresentou irregularidades em dois medicamentos.

Como chegamos a essa conclusão? Por meio da metodologia de estudo de cenário, cinco pacientes foram consultados pelos médicos em diferentes regiões da cidade do Rio de Janeiro, em novembro e dezembro de 2016. Logo após as consultas, as receitas foram encaminhadas para as farmácias de manipulação indicadas pelos médicos e, ao recebermos os medicamentos, a PROTESTE os encaminhou lacrados para análise em laboratório, a fim de descobrir o seu real conteúdo.

Com os resultados que obtivemos, mapeamos um cenário do que o consumidor interessado em emagrecer a qualquer preço pode encontrar. Não se trata de um estudo estatístico, muito menos de uma generalização quanto à atuação das farmácias de manipulação ou dos médicos desse ramo. Enfatizamos que todas as receitas foram manipuladas pelas farmácias indicadas pelos médicos, ou seja, em tese, farmácias de confiança. Nosso estudo nos conduziu a uma “fotografia” de um determinado momento sobre o tema em análise.

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Encontramos substâncias perigosas

Em primeiro lugar, entenda que o Código de Ética Médica proíbe que o médico exerça a profissão com interação ou dependência de farmácia ou indique a compra de medicamentos em determinados estabelecimentos recebendo vantagens por essas indicações. Porém, em nosso estudo, observamos que, em 90% dos casos , os médicos, por meio de suas secretárias, entraram em contato diretamente com as farmácias indicadas para solicitar o orçamento. Após esse contato, a farmácia ligou para o paciente informando o custo dos medicamentos. Em um caso específico, o paciente não teve acesso à receita prescrita – ela ficou retida com a secretária, não dando oportunidade ao consumidor de manipular em outro estabelecimento. E, em alguns outros casos, os médicos expuseram que, se o paciente manipulasse as fórmulas na farmácia indicada, teria desconto na próxima consulta.

Afinal, o que encontramos nos medicamentos? No laboratório, vimos que oito deles não continham apenas o que a receita indicava. Veja:

– Nos medicamentos manipulados na farmácia Formulife, localizada no bairro da Taquara, encontramos diazepam em uma fórmula e sibutramina em outras duas.

– Nas duas fórmulas preparadas na farmácia Manipulando, na Penha, foi encontrado femproporex em ambas.

– Nos medicamentos da Essência Life, em Nova Iguaçu, encontramos sibutramina.

– Nas duas filiais da DNA Pharma (na Tijuca e na Barra), também foi detectada a presença de sibutramina, em três fórmulas distintas.

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Diversos efeitos colaterais

É importante destacar que todas as três substâncias encontradas são de uso controlado e, naturalmente, o paciente deve ter conhecimento do que está tomando, por conta dos possíveis efeitos colaterais que os medicamentos podem ocasionar. Além disso, para comprá-los, é necessária a apresentação de receita especial.

O que isso pode trazer de mal ao organismo? Comecemos pelo diazepam. Ele é utilizado para tratamentos de ansiedade, podendo acarretar os seguintes efeitos colaterais, como sonolência, tonteira, prejuízo à memória, fadiga e leve queda da pressão arterial.

Agora vamos à sibutramina. Embora sua venda seja permitida no Brasil, essa substância usada como coadjuvante no tratamento da obesidade está proibida na Europa e nos Estados Unidos. E não é para menos: seu uso pode levar ao aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, além de provocar distúrbios do ritmo cardíaco e infarto. Há também o risco de causar psicose e mania

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Já o femproporex é um inibidor de apetite. Ele pode causar dependência, tremores, irritabilidade, reflexos hiperativos, insônia, confusão, palpitação, arritmia cardíaca, dores no peito, hipertensão, boca seca, náusea, vômito, diarreia, alteração da libido, agressividade, psicose, transtorno de ansiedade generalizada e pânico. Esse medicamento, por ser perigoso e ter eficácia duvidosa, nunca foi registrado nos Estados Unidos e, em 1999, foi proibido na Europa.

No Brasil, de acordo com a Anvisa, , até o dia 24 de abril de 2017 não existiam medicamentos registrados que continham femproporex. Portanto, enquanto não houver a concessão de registro de medicamentos com essa substância pela Anvisa, nenhum produto contendo femproporex, inclusive os importados, deve ser industrializado, exposto à venda ou entregue ao consumo. Então fica a dúvida: como essa substância chegou até a farmácia?

Outra questão é: por que as farmácias de manipulação, indicadas pelos médicos, incluiriam outras substâncias (de uso controlado) que não estavam prescritas nas receitas médicas?

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O que iremos fazer

Diante da gravidade desse cenário, a PROTESTE enviou os resultados encontrados para a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e para a Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais, solicitando uma adequada orientação aos médicos e às farmácias em relação às penalidades a que eles estão sujeitos em caso de descumprimento das normas. Pedimos que seja salientada, junto aos profissionais, a importância da transparência na relação entre médico e paciente, a fim de se oferecer sempre um tratamento adequado, eficaz e seguro. E, ainda, que seja ressaltada a importância de se seguir as boas práticas de manipulação de medicamentos para que o consumidor receba um produto eficaz e seguro e, acima de tudo, de acordo com a prescrição do médico.

À Anvisa e à Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro, denunciamos as farmácias citadas por adulteração de medicamentos e solicitamos uma fiscalização mais rigorosa aos locais.

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