"Continuem acreditando nos médicos", diz pesquisadora sobre coronavírus à PROTESTE
Pneumologista da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, falou em entrevista que acredita no controle da doença e que sairemos fortalecidos de tudo isso
Em março, quando o Brasil começou a identificar os primeiros casos de coronavírus, a doutora em pneumologia e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcolmo, mostrou -se incansável, tanto à frente do atendimento de doentes quanto ao prestar esclarecimentos na imprensa, por achar que a informação confiável seria o caminho para frear a curva epidêmica da doença. Em entrevista à PROTESTE, ela considerou a importância de também trazer esclarecimentos aos consumidores brasileiros.
O que diz a especialista
"A conscientização é alimentada pela boa informação. Então, dizer a verdade e informar às pessoas o tamanho do problema e as possibilidades de controlá-lo geram uma maior participação. Diante de uma epidemia que causa, antes de tudo, medo e apreensão, é muito importante que nós passemos uma informação que traga confiabilidade", afirmou a médica, que é especialista em Pneumologia Sanitária e foi criadora e coordenadora do ambulatório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Fiocruz. Ela também é Membro do Comitê Assessor em Tuberculose do Ministério da Saúde e das Comissões Científicas das Sociedades Brasileiras de Pneumologia e Tisiologia e de Infectologia, além de ser professora de pós-graduação da PUC-RJ.
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Margareth, apesar do cenário em que o país e o mundo se encontravam em março, quando nos concedeu a entrevista, tinha confiança na melhora da situação: "Nossa expectativa é que a doença deva encontrar, nos próximos meses, uma estabilização na curva epidêmica".
Como o Brasil se comportou em outros casos de epidemia? E qual seria a diferença para a pandemia atual?
O Brasil tem um histórico de intervenções a partir da atuação de grandes sanitaristas, como Oswaldo Cruz, nas epidemias de febre amarela e varíola. As instruções brasileiras deram origem a uma série de grandes epidemiologistas e sanitaristas que fizeram escola de muita tradição no Brasil. Nas últimas duas décadas, atravessamos epidemias de outros vírus, como o SARS e o MERS, as quais conseguimos controlar. O que faz a diferença nessa epidemia atual, além da grande capacidade de transmissão do vírus, é a quantidade e a qualidade de informação gerada com grande rapidez. Os meios de comunicação e a internet têm tido uma veiculação de informação muito grande, inclusive com a participação de médicos, sanitaristas e epidemiologistas produzindo informação muito acessível a todo mundo.
Em entrevistas, a senhora mencionou que estamos enfrentando duas epidemias paralelas: a epidemia do vírus e a epidemia do pânico...
Sim. A apreensão e o medo são sentimentos humanos muito normais diante de algo que é novo e que ameaça a vida. A única maneira de aplacar essa epidemia paralela é produzindo e provendo informação verdadeira e de boa qualidade.
O que o coronavírus traria de bom para o mundo?
Acredito que uma pandemia dessa magnitude, que causou tanto sofrimento humano, tantas mortes, deve aumentar e aprimorar as relações humanas, dando ao mundo um sentido mais generoso e um olhar para o outro melhor e de maior intensidade. Além disso, todos estamos aprendendo com essa situação, inclusive nós, médicos. Com seriedade e humildade, temos aprendido com os países que nos antecederam nessa epidemia e vamos continuar aprendendo nos próximos meses. Isso gerará um registro para a história e modificará a ciência, até que nós tenhamos imunizado grande parte da população, quer pela produção de anticorpos, que naturalmente haverá pelo contato com o agente, quer pela produção de uma vacina, que possa, com segurança, proteger-nos contra futuras epidemias causadas pelo mesmo patógeno.
Podemos, então, ter esperanças quanto à produção de uma vacina?
Não seria algo imediato. Produzi-la exige uma formulação e o cumprimento de diversas etapas. Mas há uma vacina promissora nesse momento, numa ação conjunta entre israelenses e americanos. Em março, estava na sua fase 1 (teste já em humanos). Nós esperamos que dentro de 18 a 24 meses possamos ter uma vacina que seja segura, protegendo sem causar efeitos colaterais, e eficaz, que realmente possa ser usada como prevenção para essa doença.
Quais as suas recomendações para os brasileiros?
Recomendo que sigam as orientações e continuem acreditando nos médicos. Nós temos tido todo o cuidado e rigor ao compartilhar tudo com a opinião pública, até mesmo as nossas dúvidas. Portanto, confiem nos médicos e sigam as orientações que nós e as autoridades sanitárias temos dado.